Estávamos desde o início do ano com férias planejadas para a Disney em Los Angeles e resolvemos dar uma "esticada" até o Braisl em uma visita surpresa.
Ninguém sabia que estaríamos chegando e quase matamos alguns parentes de susto.
Fomos de Los Angeles à Porto Alegre pela Copa Airlines, com uma conexão rápida na cidade do Panamá.
Ficamos em Montenegro por uma semana e foi ótimo poder passar algum tempo com a família e rever alguns amigos.
Fomos também convidados pelo pessoal do Jornal Ibiá para conceder uma entrevista e compartilhar um pouco da nossa experiência. Abaixo vai uma cópia da matéria e quero agradecer ao Marcos, Vinícius e em especial à Lica pela oportunidate.
As aventuras de uma família
montenegrina na Terra dos Cangurus
Experiência. Há seis anos vivendo na Austrália, a
família Müller visita cidade natal
“O pai chegou em casa uma noite e disse ‘vamos morar na Austrália?’. Não
sabia se ele estava brincando ou se era sério”, relembra Ricardo Cemin Müller,
18 anos. A proposta feita anos atrás era séria e, hoje, a família Müller está
em Montenegro apenas de visita. A família de Montenegro formada pelo pai
Roberto Carlos Müller, a mãe Carla Cemin Müller e os filhos Ricardo e Gabriel,
16 anos, largou tudo e foi para a cidade de Perth. Na terra dos cangurus há seis
anos, todos já são cidadãos australianos.
De acordo com o pai, tudo aconteceu de maneira curiosa. Em 2005, uma
amiga da família ficou uns meses no Canadá e voltou maravilhada com a
experiência. Ela contou que o Canadá estava buscando imigrantes e Roberto se
interessou. “Olhamos o processo, mas o Canadá era muito frio. Descobrimos que a
Austrália também fazia isso e por um ano a ideia ficou em banho-maria”, diz.
Em 2007 começou o processo, que levou cerca de dois anos, com a retirada
de visto de residente permanente, envio de documentação e exames médicos. A
família colocou a casa e todos os móveis a venda e, assim que veio a
confirmação do visto, partiu, em dezembro Janeiro de 2009. “Se não desse certo, a gente
voltava”, simplificou Roberto.
Chegando lá, as primeiras providências foram acertar documentação e
escola para os filhos. Só depois de um mês Roberto foi procurar emprego. A
época da mudança da família coincidiu com a crise mundial, e o mercado retraído
fez a procura do pai se demorar um pouco mais. “Estrangeiro, sem referência,
com um inglês meia-boca... com indicação de um amigo consegui emprego em uma
fábrica de pães, mas não me importei. Queria mesmo aprender inglês e ter mais
vivência”, conta.
A experiência de Roberto no Brasil era em informática e, sabendo disso,
seus gerentes pediram para que resolvesse uma situação em alguns computadores.
Resultado: Roberto trabalhou dois dias na linha de produção e foi para um setor
mais próximo de sua área. Depois de dois anos na empresa, outra oportunidade
surgiu e Roberto trabalha com business intelligence.
Na escola, os filhos não passaram por dificuldades para se enturmar.
Ricardo conta que no primeiro dia de aula, dois conselheiros da escola o
acompanharam. “No primeiro dia me senti sozinho, mas me ajudaram. Dei sorte de
pegar um professor que gesticulava bastante e em uns cinco meses eu estava
habituado”, conta. Gabriel explica que as escolas funcionam das 9h às 15h e o
calendário escolar prevê férias mais curtas mais vezes ao longo do ano. “É bem
mais relaxado e temos férias quatro vezes ao ano”, diz o mais jovem.
O ensino primário tem sete níveis e, depois, os estudantes passam pelo
ensino secundário, ou a High School, que tem cinco níveis e é equivalente ao
Ensino Médio no Brasil. “Temos mais escolhas de matérias. Nos últimos anos
podemos escolher o que vai nos preparar para a universidade. Eu fiz física e
design gráfico e digital”, diz Ricardo, que já está no primeiro ano do Ensino
Superior.
Diferente do que muitos pré conceitos julgariam, a família brasileira
não sofreu nenhum tipo de discriminação. Pelo contrário. “Eles acham o máximo.
Os australianos sempre foram muito receptivos e nos trataram bem. Claro que
falavam do samba e do futebol”, aponta a mãe.
As diferenças
marcantes entre Perth e Montenegro
Não bastando o título de família de coragem, os Müller também são uma
família de sorte. Na Austrália, ganharam a promoção de uma loja e receberam uma
viagem para a Disney de Los Angeles. Depois de visitar o Mickey, resolveram
fazer uma surpresa para os velhos amigos e familiares dando uma “esticadinha”
até Montenegro.
Em uma primeira impressão, Roberto diz que a cidade cresceu. “Nossa, nos
chamou muita atenção a quantidade de carros”, avalia. O fato de ter que passar
por um detector de metais para chegar ao banco também foi estranho para a
família. “Lá os caixas são na calçada”, comenta.
Sobre a cidade de Perth, escolhida justamente pelo alto Índice de
Desenvolvimento Humando (IDH), o pai é realista. “Não vou dizer que é o
paraíso, também tem excesso de velocidade, motoristas embriagados, pichação,
depredação, mas a fiscalização é muito maior”, explica.
Além disso, a cordialidade entre as pessoas e a cobrança para o bom uso
do dinheiro são muito fortes. “Todos os espaços públicos têm estrutura
completa, com banheiros, praças, quiosques e churrasqueiras. Tem acessibilidade
em tudo e o contribuinte exige”, conta. No geral, Roberto diz que as pessoas
são mais ativas e, se há uso indevido do dinheiro, a mídia age duramente
contra. “Lá os políticos não são autoridades. Temos a clareza de que eles são
funcionários do povo e os chamamos pelo primeiro nome e falamos de igual para
igual”, coloca.
Os guris ainda destacam que as casas não têm muros ou grades. “A cidade
é mais organizada, mais bem estruturada e o transporte público é excelente”,
cita Ricardo. O plano de saúde da família serve para cobrir eventuais despesas
de transporte ambulatorial ou dentista, o resto é quase totalmente coberto pelo
Governo. “Nunca pagamos nada em exames. Quando um médico cobra mais do que o
plano de saúde cobra nós só pagamos a diferença”, conta Carla.
Uma situação de Montenegro que não agradou os australianos foi a sujeira
nas ruas no dia da eleição. “Lá se usam bandeiras e até tem santinhos, mas eles
nos entregam na mão. Para votar, tem que levar uma caneta e preencher uma
cédula enorme”, relata. No primeiro voto de Carla na Austrália, seu nome não
constava na lista de eleitores e ela teve que preencher a cédula e colocar o
voto dentro de um envelope.
O custo de vida, segundo eles, é alto, mas semelhante com o do Brasil. A
grande diferença é o retorno oferecido em estrutura e serviços. “O custo de
vida é proporcional com o que se recebe em troca. São elas por elas”, diz
Carla.
A família define a Austrália como um país do tamanho do Brasil com um
décimo dos habitantes. De fato, o Brasil tem 8 515 767,049 km² de área e tem
200 milhões de habitantes, enquanto a Austrália tem 7 692 024 km² de área e só
23 717 893 habitantes.
Quando questionados sobre os programas assistenciais na Austrália, a
família contou que até pouco tempo havia um incentivo para que os casais
tivessem filhos. Para cada criança, o governo dava US$ 5 mil. “Lá temos que
comprovar a renda e as famílias que estiverem abaixo de um determinado valor,
recebem uma quantia para complementar”, explica Carla.
As saudades dos
Müller
Desde que foram para a Austrália, uma vez por semana o pai liga para
falar com a sua mãe. Além disso, acessa o site do Jornal Ibiá para se manter
informado sobre as notícias de Montenegro.
Para os meninos da família, o contato com os amigos brasileiros foi se
perdendo aos poucos, mas ao chegar em Montenegro de novo, ficaram feliz em
rever rostos conhecidos. “Fomos nos distanciando dos amigos, mas nos receberam
como se nunca tivéssemos saído daqui. Um amigo até foi ficar conosco um tempo
na Austrália”, conta Gabriel.
A família, que sempre toma chimarrão na casa em Perth, sente falta de
muitas coisas que tinha aqui no Sul do Brasil. “Os parentes e amigos são o
principal, mas tem comidas como o X e Pastel que não existem lá”, brincam.
Volta e meia, eles encontram lojas especializadas onde comprar feijão,
paçoca, goiabada e guaraná. “Até Brahma eu já achei”, conta o pai.
Depois da experiência e do conhecimento adquirido, a família dá a dica
para quem quer mudar de vida completamente da mesma forma que eles. “É crucial
estar disposto a desapegar e ter ciência que vai estar longe. Você cai no
desconhecido e tem que recomeçar. Não é fácil”, revela. O grande trunfo dos
Müller é que eles não enfrentaram o desconhecido sozinhos, mas sim, se apoiando
na base familiar. “Temos uns aos outros e nos damos suporte”, diz a mãe.
Na mala para a viagem de volta – depois de darem mais um pulinho em Los
Angeles -, não vai faltar algumas coisas bem brasileiras das quais eles sentem
falta. “Bombons e Bis têm que ter”, brinca Carla. “Pingo d’ouro também”,
completa Beto. “Ah, e o Xis do Hiper”, conclui a mãe.